Aquarius nem se quer tinha data para estrear no Brasil e nós já sabíamos que não seria mais um filme nacional comum. Não que exista oportunidade de desmerecer um cinema que tanto vem ressaltando o poder que tem, mas dava para sentir que existia algo a mais nesse, diante de todos os outros. Isso só se confirmou quando, mesmo após diversas críticas ligadas a política e alguns supostos boicotes, o filme continuou mantendo a compostura e venceu pela qualidade. E a melhor coisa que eu poderia ter presenciado aconteceu. Após o filme, o publico aplaudiu a obra dentro do cinema.
Pode-se dizer que Sonia Braga não atua nada nesse filme, ela vive. Dá para crer na veracidade de tudo que acontece. Em uma determinada cena onde acontece uma discussão, você consegue ver e sentir a dor da personagem apenas por uma rouquidão em sua voz de tanto segurar a emoção enquanto tenta mostrar o seu dolorido lado. A dor que faz par com a nostalgia de Clara (personagem de Sônia), casa muito bem com a belíssima trilha sonora que consegue retratar toda a nossa cultura nacional mesclando com os maravilhosos refrões da banda Queen.
É muito difícil falar mais sobre um filme que não pode ser contado de boca em boca ou resumido. É necessário sentir Aquarius, desde as cenas de flashback feitas em uma fotografia maravilhosa que lembra aquelas fotografias antigas que ficaram envelhecidas em tons amarelados, até pequenas cenas que não precisam ser explicadas, como um pensamento ou uma lembrança de Clara em que a câmera apenas acompanha sua cabeça.
E enfim, o porquê de tanta raiva do filme, já que ele mostra o Brasil que acontece agora? O país machucado por um povo mimado que não se importa com mais nada além de business, sucesso, fama e crescer na vida. Um povo que passa por cima de quem for, que quanto mais poder tiver, melhor. Mas também mostra que o povo precisa enxergar que tem um pouco de Clara dentro de si e pode batalhar por um futuro melhor, por o futuro que quer!
Aquarius tem muita poesia em seus detalhes. As mãos, as expressões, o sexo e até em atos pequenos, como quando Clara descrever porque ama tanto seus discos de vinil e logo depois expressar esse amor, ela pega, olha o disco e colocar para tocar. Para quem gosta de cinema e principalmente nacional, este é totalmente imprescindível.