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Pedro Kiss

RESENHA - AMORES URBANOS


Até quando dura a crise? Não falo da econômica mundial, mas da existencial. Eu achava que isso era coisa dos vinte e poucos anos, mas pelo o que noto, aos trinta isso só piora. Vivemos em uma sociedade em que a geração dos nossos pais (aqueles nascidos entre 60/70), os famosos baby boomers, que viveram em uma época cheia de repressão e tentam passar essa frustração para os seus filhos e netos. Bom, adicione mais um monte de gente perdida e a cidade que se move sozinha, e você tem a sinopse do filme.

Eu sinto um prazer grande em filmes sobre a cidade grande, principalmente sobre São Paulo, a cidade mais legal e melancólica do mundo. Em Amores Urbanos isso se mostra bem evidente, já que toda essa melancolia se incorpora nas indecisões e crises de três pessoas por volta dos seus trinta anos. Eles se questionam: cheguei aos trinta, a idade que me pressionam para ter tudo perfeito, mas to mais perdido do que nunca. E agora?

É curioso. O filme em si começa bem chatinho e arrastado. O personagem do Thiago Pethit fica no mistério se é chato mesmo ou se ele atua mal, ou um pouco dos dois (voto nessa opção), enquanto Maria Laura Nogueira, até então uma atriz desconhecida, rouba a cena desde o primeiro momento, incorporando todos nós, a famosa pessoa que foi iludida por uma educação onde, na teoria, te falam que você é capaz de tudo, mas quando você tenta fazer tudo, te proíbem e te chamam de louco. Já Renata Gaspar, parece que ainda vive a mesma personagem de Descolados da MTV (Lembra? Amava) o que não é nem um pouco ruim.

A história não quer fugir da realidade, mas nem por isso é chata, constrói muito bem os seus personagens e faz com que nenhum fique mal explicado ou parecendo um qualquer reclamando por nada. Inclusive isso é questionado: o seu problema é maior que o meu? Aliás, também vemos questões sobre preconceitos com amor, carreira e outros casos, que são respondidos com brigas, discussões e corpos expostos justamente para provocar.

Ao mesmo tempo é meio triste. Um filme que quer abordar todos os temas e quer se mostrar liberal ainda bate em uma tecla machista, pois não tem problema nenhum em mostrar os corpos femininos, mostrando peitos e sexo de forma muito normal (como deve ser), mas em nenhuma hora se preocupa em mostrar alguma cena de nu masculino ou até o membro dos rapazes, já que colocando apenas o corpo feminino, ele cai na mesma da maioria dos filmes machistas que introduzem para despertar atenção e ainda reluta o corpo masculino. O que quer dizer: quebra barreiras quando lhe convém né?

Por fim, o filme é divertido e emocionante. A empatia e o amor entre os três convence e é forte. O filme não quer ser nada além do que é, e isso é muito bom, pois necessitamos de filmes assim, que sirvam para discutir assuntos importantes que hoje são ignorados por toda a sociedade. A indecisão não tem idade, temos todo direito de não nos encontrarmos com vinte ou trinta anos e é muito bom saber que não estamos sozinhos em nossas indecisões e, por isso, o filme merece um olhar carinhoso.

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