A morte ainda é um tabu na sociedade, crescemos com medo dela e fazemos de tudo para atrasá-la, mesmo sabendo que de qualquer forma, ela chega. Mas, e quando alguém próximo de você está perto da morte? E, principalmente, quer morrer? Será que não somos muito egoístas em dizer não para alguém que quer partir? Até onde vai uma amizade em questões como essa? Respeitar ou perturbar alguém que de qualquer forma vai morrer. Bom, se você ficou em duvida ou foi ferozmente contra, talvez devesse ver Truman, o novo filme do grande Ricardo Darín que aborda justamente essas questões.
É notável como Darín consegue transformar uma historia simples em algo cheio de mensagens e dramas pessoais, mesmo sendo “apenas” o ator, ele parece dar mais sensibilidade e sustentação para a trama do que qualquer diretor conseguiria. Como eu disse, a trama se trata de algo simples, Julián (Ricardo Darín) é um ator famoso, mas falido, que tem câncer e até tentou tratamento, mas o tumor acaba se espalhando e agora é inevitável. Ele até poderia optar por voltar ao tratamento, mas desiste e escolhe aproveitar o resto da sua vida. Por isso, seu grande amigo, Tomás (Javier Cámara), vem do Canadá para fazê-lo mudar de ideia. Mas, será que ele deve fazê-lo mudar de ideia ou apenas aproveitar a vida ao seu lado?
Deve ser muito difícil encarar a morte de frente como Julián tem coragem de encarar, mas para não ser algo muito bruto, ele coloca suas atenções no seu outro melhor amigo, Truman, seu cão amigo de velha data. Ele não liga para a morte como liga em dar uma nova família ao pobre cão que não tem muita escolha a não ser ficar ao seu lado até ele ir embora. É muito linda a forma como o personagem de Darín mostra sua visão da vida para o seu amigo, e por mais que seja triste, é ao mesmo tempo belo a forma que ele vai se despedindo das pessoas e do mundo a sua volta, pois a ultima coisa que ele quer é choradeira, como um bom ator de teatro.
Ao mesmo tempo é complicado julgar um filme argentino, já que eles têm uma visão muito diferente de apresentar os seus personagens e conduzir uma história. Eles não se preocupam em ficar explicando demais, ficar perdendo tempo com detalhes óbvios, o que na minha opinião é ótimo, já que não trata o publico como burro, são coisas obvias ou até desnecessárias para a trama. Infelizmente no Brasil ainda não perderam essa mania, tem de explicar tudo e se bobear não ligam nem para a simbologia, ainda pegam algum personagem para falar como idiota e explicar toda a trama para o telespectador preguiçoso.
O drama brinca com o humor que a morte não tem, mas deveria. Também busca um tom mais escuro em sua fotografia, mas que não a torna triste ou depressiva, pelo contrário, há uma certa poesia em sua fotografia que se envolve diretamente com a historia e cativa o telespectador como todo filme que Darín está envolvido.
É lamentável que o público brasileiro ainda tenha que ir atrás dos filmes Argentinos de Darín, porém, o que se pode dizer de um país que não valoriza nem o seu próprio produto nacional e deixa filmes estrangeiros de gosto duvidoso por 3 semanas em cartaz e os nacionais as vezes nem por uma semana? Ah não ser, claro, se for um filme de dez leis ai.