Esqueça DIVERTIDA MENTE (pelo amor de Orson Welles). A melhor animação dos últimos tempos se chama Zootopia! Um filme de uma hora e quarenta e oito minutos que é tão bom que parece que tem quinze minutos. Um universo totalmente novo, dificilmente explorado, ou então, um mundo que até hoje tinha sido muito mal explorado, que é a realidade animal se posicionando como o ser humano na nossa sociedade atual.
Perdão por comparar um filme com outro, odeio isso e odeio mais ainda quem faz isso, mas é inevitável. Digo e repito que é inevitável pois apesar de não forçar tanto a barra quanto o outro, Zootopia trata de um assunto importante por meio de graça e da temática usada. Consegue facilmente falar com os dois públicos, pais e filhos, e mostrar de uma forma fácil a diferença entre raças e os sonhos.
A maior confirmação que se tem disso é que no começo do filme, muitos pais utilizavam da sua má educação e ligavam a porra do celular, com aquela luz filha de uma puta na minha cara, aquele tipo de pessoa que merece levar um banho de pipoca com MUITA MANTEIGA para não sair fácil. E lá para a metade do filme, esses infelizes desligaram o celular e deram risada, realmente se divertiram, a ponto de um pai que utilizava o celular do inferno no começo do filme ir brigar com uma mãe por ela estar fazendo a mesma coisa, já que agora que ele estava se divertindo e queria prestar atenção.
Mas ok. Quanto ao filme, posso dizer que é uma animação leve, que não persegue o grande momento do clímax. Eu me senti uma criança quando descobri o vilão do filme, mostrando mais uma vez a história bem desenvolvida, a ponto de não ser nada obvio. Principalmente na hora de tratar do mundo dos animais, como eles convivem entre si, sem os instintos e etc.
E as referências...
Meu santo Michael Haneke, quanta referência! Não podia acreditar no número grande delas que eu via na tela, não dava nem para contar. Foi de Batman, passando por Breaking Bad, até pela mais óbvia de Poderoso Chefão. Foi incrível! Aliás, acho que é nesse ponto que ela amarra a atenção do adulto. Já que, obviamente, para entender qualquer uma delas é preciso ter no mínimo 18 anos e toda uma cultura pop acumulada.
Partindo desse ponto que amarra todo o público, passamos para o outro, este que na real é o objetivo do filme: tratar das diferenças. Como vocês sabem, raça humana só tem uma (pelo menos a atual), independente de cores, e mesmo que por infelicidade, ainda usamos o termo raça para distinguir as cores de pele, o termo raça é bem usado para associar isto com os tipos de animais que existem. E existe todo um medo dessa diferença: os mais fracos tem medo dos selvagens e os maiores tem raiva dos pequenos que estão ganhando a vida no mundo “que eles achavam que eram deles”. Então, cada vez que o medo vai crescendo, mais essa luta de classes... ops ... de raças vai aumentando, mais a briga toma conta e só no final eles entram no consenso do respeito entre as diferenças. Percebeu algo em comum com a nossa realidade brasileira? Pois é...
De toda forma, o filme não tem ponto fraco ou nada que diminua seu brilho. Ele cresce muito conforme vai se desenvolvendo. Seu ponto mais baixo, talvez seja a dublagem brasileira, porque com tantos profissionais bons no nosso setor de dublagem, ainda persistem nessa mania de chamar famoso que não sabe conduzir uma voz para uma animação. Não é que seja ruim, mas a voz da grande Monica Iozzi ficou muito parecida com a voz de mil outras personagens femininas e passa um pouco batido. Mas, deve ser muito interessante ver em inglês, já que o elenco conta com vozes poderosas de atores como J.K. Simmons e Idris Elba.
Perca um pouco seu preconceito com animações da Disney dos últimos tempos, essa é uma daquelas que nunca vai perder a graça e sempre vai parecer atual, infelizmente ou felizmente.