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  • Pedro Kiss

CRÔNICAS CINÉFILAS - BOA NOITE, VIZINHANÇA.

Nem sempre os nossos maiores heróis são os nossos pais e parentes. Muitas vezes somos crianças introspectivas e de alguma forma estranha não conseguimos nos abrir com as pessoas mais próximas do dia a dia. Parece bobo e fácil, mas muitas vezes o maior desafio de uma criança é falar o que sente para alguém.

Por isso, cresci com a televisão sendo o meu protetor máster. Não existia maior prazer que aquelas televisões antigas que davam um pulso de energia quando ligavam e fazia aquele sonzinho característico como se fosse um lindo bom dia. Então, não era de se estranhar que a maioria dos personagens que passavam nela eram os meus melhores amigos. Eu cresci assim, em volta do drama, da piada, mas principalmente do garoto que se escondia no barril e me ensinava sobre ser forte e justo.

Foi então que eu cresci e a realidade (assustadora, diga-se de passagem) tomou conta da minha mente. Como assim eles não eram reais? Isso doeu mais do que descobrir que aquele velho barbudo era o meu tio. Mas isso não me impediu de ter um certo carinho pelos atores, afinal, aquilo era tão especial que depois de um tempo, os atores viraram os personagens, não importava se fizeram outra coisa, eles apareciam em festas, feiras especiais, entrevistas, etc. Mesmo a realidade me dizendo outra coisa, eu e nenhum fã deixávamos que ela realmente fosse separada da fantasia.

Mas diferente da fantasia, que ainda passa todo dia, antes do jornal, aquilo uma hora ia acabar. Nós sabíamos, só não gostávamos de pensar. Ficava tão vidrado vendo o programa que parecia que eu vivia eternamente no filme O Feitiço do Tempo, com Bill Murray. Mas o que faz alguém imortal? A fantasia ou a realidade dura?

E agora, se existisse uma vila, teríamos uma Dona Florinda triste, sem ter com quem tomar café e apenas com o seu filho Kiko, afinal, depois da morte do seu pai e do seu melhor amigo, a Chiquinha provavelmente não estaria mais lá. E o Senhor Barriga não teria porque ir à vila, afinal, de quem cobraria os 14 meses de aluguel? Sem todos que se foram e agora sem o Professor, como a vila mais conhecida sobreviveria?

Por sorte, quem faz arte vira imortal, vira transcendental e fazendo mágica da viagem no tempo real, pois cada vez que a ligo a televisão e está passando Chavo Del Ocho, consigo voltar a ser aquele menino calado e enfeitiçado pelo o que está acontecendo naquela televisão velha de tubo. Obrigado.

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