“Santos, 30 de março de 2016.
Caro cinema, como você está?
Você que vive a mais ou menos cem anos já passou por muitas coisas, heim? Esses dias um amigo meu me contou que o cantor Lobão, aquele que xinga todo mundo que puder, publicou nas redes sociais uma carta que escreveu para Gilberto Gil, Caetano Veloso e Chico Buarque. Nela ele pede desculpas por todas as ofensas que já fez a eles, dizendo que no fundo sempre os teve em seu DNA de músico.
Eu fiquei impressionado. Achei que nunca veria isso. Verifiquei diversas vezes para ver se aquilo era real. Cheguei em minha casa, ainda confuso sobre tudo isso, mas também muito
esperançoso, já que se o Lobão pediu desculpas e de certa forma pedia paz entre eles, porque eu não podia crer em um mundo melhor onde mentes diferentes conseguissem conviver em paz? Pensei muito e cheguei a conclusão que deveria escrever uma carta também (Essa moda à la Temer pegou mesmo). Percebi que vivo uma relação de amor e ódio com você e qualquer tipo de ódio é algo horrível. Por mim quero que sobre só o amor. Por isso escrevi essa carta aberta para pedir desculpas por algumas coisas que já cometi ou até vou cometer.
Primeiramente peço desculpas por todos os filmes que já baixei ilegalmente. Pois é, ninguém é de ferro né? Mas apesar das minhas desculpas, quero que entenda que nem sempre é minha culpa. Eu já quis muito ir ver alguns filmes junto a você, mas por aqui está cada vez mais difícil, já que os cinemas muitas vezes nem passam os filmes menos famosos e optam por deixar em cartaz aquele filme religioso do canal de televisão, este que está em cartaz a mais tempo que todos os filmes do James Bond ficaram (somando todo tempo de cartaz de todos eles desde 1962, claro).
Aliás, falando em filme ruim, quero pedir desculpas também, por todas as vezes que eu quis matar alguém dentro de suas salas. Eu sei que eu peço paz e amor, mas é muito complicado não querer matar alguém que liga o desgraçado do celular no meio do filme, sem esquecer as velhinhas e pré-adolescentes sem educação que resolvem narrar a trama. Prometo que a próxima vez irei torcer pela morte do celular ou para um pequeno engasgo que assuste um pouco a ponto de que fique com medo de abrir a boca até o próximo dia.
Quero também lhe explicar que estou amando outra, a Netflix. Mas, peço que entenda que consigo amar ambos de forma bem equilibrada. Fique tranquilo, que você ainda me deixa entusiasmado e empolgado como sempre. Deixo bem claro aqui, minha promessa que nunca irei trocá-lo por ela, mas que você tente facilitar para mim também e resolva esses problemas que citei das crianças e idosas de boca precoce.
Aliás, falando em crianças, me vem a mente que devo me desculpar por outras pessoas. Primeiro, por aqueles que saíram da sessão de “Quero matar meu chefe” e acharam a trama super legal, mas agora com a estreia de “Batman Vs Superman”, reclamam que o filme não tem história, vai entender né? Apesar que não há muito o que se discutir, estes devem ser os mesmos que acham que no final de Lost todos estavam mortos.
Agradeço a paciência por todo esse tempo que você acompanhou tanta gente batendo palma em “Birdman” e dizendo que “Interstellar” é chato. Não deve ser fácil aguentar esses pseudos cinéfilos que reclamam do Snyder, Nolan e Tarantino, mas tão lá na pré estreia de Transformers 20, com a “bela” direção do Michael Bay. Que tortura.
Só para finalizar, esqueci de me desculpar por algo do mundo cinematográfico. Como comecei falando do Lobão, volto a falar nele para me desculpar em nome dele e de todos os outros músicos dos anos 80 por aquele filme “Areias Escaldantes”. Vamos fingir que eles nunca fizeram aquele filme ou que ele nunca existiu.
Até breve meu querido, espero ficar bem velho ao seu lado.
Ass, um Idiota Cinéfilo. “
